Revista Anômalas
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Revista Anômalas
Segunda-feira, 08 de novembro de 2021

Chamada para Dossiê nº 1, 2022

CHAMADA PARA ARTIGOS

Comunidades, bem-viver e narrativas contra-hegemônicas

Dayane Nascimento Sobreira (Doutoranda PPGNEIM/UFBA)

  Flávia Lorena Brito (Doutoranda PPGE/UFMT)

  Flávia Pereira Machado (Doutoranda PPGH/UFG)

As mudanças climáticas, as reconfigurações territoriais, a destruição do ambiente e das formas de vida de povos originários e comunidades tradicionais, se tornaram a tônica das sociedades modernas e globalizadas. Em nome da racionalidade ocidental e de um projeto de poder moderno, colonial e capitalista/neoliberal, as comunidades, em diferentes territorialidades, espacialidades e temporalidades, foram sendo devastadas não apenas no que tange aos territórios ocupados, mas fundamentalmente em seus conhecimentos e práticas. O “abuso da razão”, nas palavras de Ailton Krenak (2019), trouxe uma ruptura em relação a estas vivências e narrativas tradicionais, o que nos leva a ressoar os mesmos questionamentos do referido autor: “por que essas narrativas não nos entusiasmam? Por que elas vão sendo esquecidas e apagadas em favor de uma narrativa globalizante, superficial, que quer contar a mesma história para a gente?” (KRENAK, 2019, p. 19). E mais: que pactos coloniais tais omissões e silenciamentos perpetuam? Nesse sentido, a partir de um diálogo trans, multi e interdisciplinar alinhavado pelas escritas da história, objetiva-se evidenciar diferentes formas comunitárias e protagonismos dissidentes em torno de suas práticas e princípios de complementaridade, autonomia, reciprocidade - em contraponto às narrativas de poder costuradas a partir de linhas abissais, que continuam a estruturar o pensamento moderno, nos dizeres de Boaventura de Sousa Santos (2009). Redes de movimentos sociais, mestres/as de saberes tradicionais, sertanejas, benzedeiras, mulheres indígenas, sem-terra, “margaridas”, a citar alguns/algumas, veem atuando na construção de epistemologias contra-hegemônicas, na inter-relação entre saberes ditos, ou não, como científicos, e na profusão do bem-viver enquanto contraponto à crise civilizatória e ambiental deslanchada pelo capitalismo e seu aporte ideológico pautado no individualismo e no racionalismo. A partir do feminismo comunitário, entende-se esse espectro social enquanto princípio que preza acima de tudo pela vida em detrimento dos valores e da ética moderna do consumo e do lucro (PAREDES, 2020). Desse modo, compreendemos que estes agenciamentos de sujeitos e sujeitas, bem como de diversos grupos sociais e comunidades, são estruturados na relação entre as opressões e as resistências, evidenciando-se como “a volta para dentro, em uma política de resistência, rumo à libertação” (LUGONES, 2014, p. 94). Frente a estes cenários complexos e paradoxais, propomos este dossiê, na expectativa de reunirmos artigos que reflitam sobre saberes e fazeres re-existentes, de sujeitos/as subalternizados/as, das formas comunitárias do bem-viver e das lutas contra os processos de aniquilação cultural, ambiental e política de grupos sociais e comunidades diversas que irrompem a partir das margens. Buscamos, assim, diálogos com a sabedoria das vivências, tendo em vista a dimensão do pluriverso como contraponto ao epistemicídio que a modernidade promoveu por intermédio também das Universidades, onde diversas formas de conhecer e perceber o mundo foram silenciadas, dando lugar a uma falsa unidade, uma “universalização” dos saberes e das práticas. Mirar o mundo desde a noção de pluriverso contrasta com a suposição de mundo uno, de que há uma só realidade à qual correspondem múltiplas culturas e representações subjetivas. “Para la propuesta del pluriverso hay muchas realidades o ‘reales’, aunque no se pretende “corregir” la creencia en un solo “real” bajo el argumento de ser una explicación más verdadera de ‘la realidad” (ESCOBAR, 2014, p. 145). Assim, acreditamos, conforme Walsh (2014), que essas reflexões provocam fissuras, gretas, nos saberes colonizadores/colonizados, promovendo a salvaguarda dos saberes e fazeres decoloniais e de re-existências outras. São dimensões transgressoras e potentes que apontam para uma nova cosmologia de saberes, em suas epistemes insurgentes, re-existentes e pluriversas.

Submissões para este Dossiê abertas até o dia 28 de fevereiro de 2022.
Lembramos ainda que a Revista Anômalas recebe, em fluxo contínuo, artigos livres e resenhas.

Envio de artigos para: revistaanomalas@gmail.com

RAL

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