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Artigo Livre

INTELECTUAIS NEGRAS E ESCRITA INTERSECCIONAL: PRÁTICAS LIBERTÁRIAS DE JUSTIÇA SOCIAL

BLACK INTELLECTUALS AND INTERSECTIONAL WRITING: LIBERTARIAN PRACTICES OF SOCIAL JUSTICE

INTELECTUALES NEGRAS Y ESCRITO INTERSECCIONAL: PRÁCTICAS DE LIBERTAD Y JUSTICIA SOCIAL

Ana Paula Oliveira Lima

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Resumo

Este artigo apresenta reflexões sobre a produção teórica de mulheres negras e a expressão que a interseccionalidade assume nessas escritas que se debruçam substancialmente sobre o Sul global. Ferramenta de análise das opressões estruturais que as asfixiam, conforme define Sueli Carneiro (2003, 2005), as epistemes que partem da compreensão do imbricamento entre raça, classe e gênero são revolucionárias por conceberem políticas não exclusivamente para um estrato, mas para a totalidade de atores sociais. Segundo Angela Davis (2016, 2017), tendo para a obrigatoriedade de sua sobrevivência a necessidade de entender os demais componentes da sociedade, as mulheres negras precisam, adicionalmente, entenderem a si próprias, e por esse movimento, adquirem uma visão revolucionária de mundo. Engendrado e impulsionado por intelectuais negras, o ponto de vista interseccional delineia práticas libertárias e transgressoras para um projeto feminista negro de justiça social autônomo. A análise é operada a partir da leitura de algumas obras de escritoras negras brasileiras e estadunidenses e de bibliografias que referenciam essa produção e as caracterize. Os debates que emergem desse conjunto, abrangendo perspectivas de educação e filosofia política, demonstram a necessidade de descolonização do conhecimento, visto que mesmo movimentos pretensamente emancipatórios reproduzem os ditames do capitalismo patriarcal racista.       

Palavras-chave

Intelectuais negras. Escrita. Interseccionalidade. Feminismos negros.

Abstract

This article presents reflections on the theoretical production of black women and the expression that intersectionality assumes in these writings that deal substantially with the Global South. Tool analysis of the structural oppressions that suffocate them (Sueli CARNEIRO, 2003, 2005), the epistemes that start from the understanding of the interweaving between race, class and gender are revolutionary for conceiving policies not exclusively for one stratum but for totality of social actors. Having the need to understand the other components of society black women also need to understand themselves, and by this movement they acquire a revolutionary world view (Angela DAVIS, 2016, 2017). Creating and driven by black intellectuals, intersectional view opposition delineates libertarian and transgressing practices for a black feminist project of autonomous social justice. The analysis is operated from the reading of some works of black Brazilian and American writers and bibliographies that reference this production and characterize them. The debates that emerge from this set covering perspectives of education and political philosophy, demonstrate the need for decolonization of knowledge, since even supposedly emancipatory movements reproduce the dictates of racist patriarchal capitalism.       

Keywords

Black intellectual. Writing. Intersectionality. Black feminisms.

Resumen

El artículo presenta una reflexión de la producción teórica de mujeres negras y el concepto de interseccionalidad en los escriptos que comprenden al Sur global. Herramienta de análisis ante las opresiones estructurales que ahogan a las mujeres negras (CARNEIRO, 2003, 2005), las epistemes que asimilan raza, clase y género son revolucionarias en la proposición política a la sociedad. Teniendo la necesidad de conocer la sociedad para sobrevivir, conocen también a ellas mismas, con eso, la mujeres negras logran poseer uma visión revolucionária de la sociedade que pertenecen (DAVIS, 2016, 2017). Creado y conducido por intelectuales negras, el punto de vista interseccional define prácticas de libertad y transgresión para desarrollar el proyecto feminista negro de la justicia social autárquico. La metodología avanza por la lectura de algunos textos de las autoras negras brasileñas y estadounidenses más bibliografias de referencia a la producción. Los debates insurgentes, trayendo perspectivas de educación y filosofía política, prueban la exigencia de descolonización del conocimiento por los movimientos sociales en el iflujo del capitalismo patriarcal racista.       

Palabras clave

Intelectuales negras. Escrito. Interseccionalidad. Feminismos negros.

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Submetido em:
28/02/2022

Aceito em:
25/04/2022

Publicado em:
13/06/2022

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