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Entre bichas e bofes: o auê das palavras no jornal Lampião da Esquina (1978-1981)

Between ribbons and males: the ‘auê’ of the words in the journal Lampião da Esquina (1978-1981)

Entre bichas y bofes: el ‘auê’ de las palabras en la revista Lampião da Esquina (1978-1981)

Alisson Gonçalves

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Resumo

O presente artigo é parte do trabalho desenvolvido na dissertação de mestrado. Levando em consideração o contexto ditatorial brasileiro do final da década de 1970, houve um crescimento da chamada imprensa alternativa no Brasil, e por consequência o aparecimento do Jornal Lampião da Esquina em abril de 1978, ficando em vigência até meados de 1981. O periódico, produzido majoritariamente por homossexuais, era destinado principalmente à chamada população gay do gueto, e tinha como objetivo dar visibilidade não somente aos gays, lésbicas e travestis, mas também a outras parcelas marginalizadas pelas políticas autoritárias da época. Ao longo das suas 38 edições lançadas mensalmente, o jornal mostrava em seus editoriais e reportagens uma linguagem diferente daquela presente nas demais mídias impressas, recorrendo a um palavreado muitas vezes debochado e recheado de gírias e termos usados pela população gay da época. A presente pesquisa tem por objetivo apresentar termos e a linguagem usada pelo jornal, e como esses termos foram sendo ressignificados numa tentativa de aproximar- se com seu público alvo, além de ser um imperativo de luta contra o preconceito existente. Bicha, bofe, boneca, pintosa, gay- macho, além de serem termos presentes no jornal também representavam estereótipos e formas de identificação dos sujeitos gays quanto a sua homossexualidade na sociedade dos anos de 1970, mesmo que tais marcações gerassem discordâncias tanto à identificação quanto ao próprio uso dos tempos pelos leitores. Conclui- se que o jornal enfatizou principalmente as figuras da bicha e do bofe como marcadores para que os sujeitos gays se percebessem como tal e assim pudessem assumir com naturalidade sua condição sexual.

Palavras-chave

Jornal Lampião da Esquina. Imprensa Gay. Bichas. Bofes.

Abstract

The present article is part of the work developed in the master's thesis. Taking into account the dictatorial Brazilian context of the late 1970s, there was a growth of the so-called alternative press in Brazil, and consequently the appearance of the newspaper Lampião da Esquina in April 1978, remaining in force until mid-1981. The periodical, produced mostly by homosexuals, was aimed mainly at the so-called gay population of the ghetto, and had the objective of giving visibility not only to gays, lesbians and transvestites, but also to other groups marginalized by the authoritarian policies of the time. Throughout its 38 monthly editions, the newspaper showed in its editorials and reports a language different from that present in other print media, resorting to a vocabulary often debauched and filled with slang and terms used by the gay population of the time. This research aims to present terms and the language used by the newspaper, and how these terms were being resigned in an attempt to get closer to its target audience, besides being an imperative to fight against the existing prejudice. Bicha, bofe, boneca, pintosa, gay-male, besides being terms present in the newspaper also represented stereotypes and forms of identification of the gay subjects regarding their homosexuality in the society of the 1970s, even if such markings generated disagreements both to the identification and the very use of the times by the readers. It is concluded that the newspaper emphasized mainly the figures of the faggot and the hottie as markers for the gay subjects to perceive themselves as such and thus could assume their sexual condition with naturalness.

Keywords

Lampião da Esquina Newspaper. Gay Press. Queers. Faggots.

Resumen

El presente artículo forma parte del trabajo desarrollado en la tesina del Máster. Teniendo en cuenta el contexto dictatorial brasileño de finales de la década de 1970, se produjo un crecimiento de la llamada prensa alternativa en Brasil, y en consecuencia la aparición del periódico Lampião da Esquina en abril de 1978, manteniéndose vigente hasta mediados de 1981. La revista, producida principalmente por homosexuales, se dirigía sobre todo a la llamada población gay del gueto, y pretendía dar visibilidad no sólo a gays, lesbianas y travestis, sino también a otros grupos marginados por las políticas autoritarias de la época. A lo largo de sus 38 ediciones publicadas mensualmente, el periódico mostraba en sus editoriales y reportajes un lenguaje diferente al presente en otros medios impresos, utilizando una palabra a menudo libertina y llena de argot y términos utilizados por la población gay de la época. Esta investigación tiene como objetivo presentar los términos y el lenguaje utilizados por el periódico, y cómo estos términos estaban siendo resignificados en un intento de acercarse a su público objetivo, además de ser un imperativo para luchar contra los prejuicios existentes. Bicha, bofe, boneca, pintosa, gay-masculino, además de ser términos presentes en el periódico también representaban estereotipos y formas de identificación de los sujetos gays en cuanto a su homosexualidad en la sociedad de los años 70, aunque tales marcas generaran desacuerdos tanto a la identificación como al propio uso de los tiempos por parte de los lectores. Se concluye que el periódico enfatizaba principalmente las figuras del maricón y del cachondo como marcadores para que los sujetos homosexuales se percibieran como tales y así pudieran asumir con naturalidad su condición sexual.

Palabras clave

Revista Lampião da Esquina. Periódico Gay. Maricas. Maricones.

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Submetido em:
20/08/2021

Aceito em:
17/09/2021

Publicado em:
15/12/2021

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