Queer Indigenous Studies: ou como “deixei” de ser indígena para ser gay
Queer Indigenous Studies: or how I “stopped” from being indigenous to be a gay
Estudios Queer Indígenas: o como “cambié” de ser indígena a ser gay
Jean Baptista
Resumo
Ao partir de indagações pessoais sobre minha ancestralidade indígena e o modo como “deixei de ser índígena”, este artigo apresenta o projeto “Entre o Arco e o Cesto” e sua crítica pautada na abordagem Queer Indigenous Studies. Para tal, o artigo está dividido em três momentos analíticos: a) uma reflexão sobre minha trajetória pessoal, em especial no que diz respeito ao conflito entre etnicidade ancestral e sexualidade dissidente nascido tanto nas experiências com a sociedade envolvente, quanto familiares; b) em seguida, apresento o projeto referido, indicando sua base teórico-metodológica, as principais autorias em discussão, suas problemáticas norteadoras e alguns resultados esperados tanto práticos quanto reflexivos; por fim, indico alguns resultados preliminares sobre as questões metodológicas, teóricas e práticas levantadas até o momento, procurando delinear as principais características da abordagem Queer Indigenous Studies, em um esforço de caracterização inicial. Reservam-se para as considerações finais uma reflexão conjunta sobre estudos Queer e questões indígenas na História e contemporaneidade.
Palavras-chave
Abstract
Based on personal inquiries about my indigenous ancestry and the way in which “I stopped being indigenous”, this article presents the project “Between the Arch and the Basket” and its criticism based on the Queer Indigenous Studies approach. To this end, the article is divided into three analytical moments: a) a reflection on my personal trajectory, especially with regard to the conflict between ancestral ethnicity and dissident sexuality born both in experiences with the surrounding society, as well as family members; b) then, I present the referred project, indicating its theoretical-methodological basis, the main authors under discussion, its guiding issues and some expected results, both practical and reflective; finally, I indicate some preliminary results on the methodological, theoretical and practical issues raised so far, seeking to outline the main characteristics of the Queer Indigenous Studies approach, in an initial characterization effort. A joint reflection on Queer studies and indigenous issues in History and contemporaneity is reserved for the final considerations.
Keywords
Resumen
A partir de consultas personales sobre mi ascendencia indígena y la forma en que “dejé de ser indígena”, este artículo presenta el proyecto “Entre el arco y la canasta” y su crítica basada en el enfoque de los Queer Indigenous Studies. Para ello, el artículo se divide en tres momentos analíticos: a) una reflexión sobre mi trayectoria personal, especialmente en lo que se refiere al conflicto entre etnicidad ancestral y sexualidad disidente nacida tanto en vivencias con la sociedad circundante, como con familiares; b) a continuación, presento el proyecto referido, indicando su fundamento teórico-metodológico, los principales autores en discusión, sus ejes rectores y algunos resultados esperados, tanto prácticos como reflexivos; Finalmente, indico algunos resultados preliminares sobre las cuestiones metodológicas, teóricas y prácticas planteadas hasta el momento, buscando delinear las principales características del enfoque de los Queer Indigenous Studies, en un esfuerzo inicial de caracterización. Una reflexión conjunta sobre los estudios queer y las cuestiones indígenas en la Historia y la contemporaneidad se reserva para las consideraciones finales.
Palabras clave
Referências
BAPTISTA, Jean. “Machorras” e “afeminados” indígenas: corpos abjetos nas Missões e Paraguai. Revista Estudos Feministas, [no prelo].
BAPTISTA, Jean. Entre o arco e o cesto: notas Queer sobre indígenas heterocentrados nos museus e na Museologia. Cadernos de Sociomuseologia, Lisboa, v. 61, n. 17, 2021a.
BAPTISTA, Jean. Entre o arco e o cesto: uma abordagem Queer of Color Critique. XXXI Simpósio Nacional de História. Rio de Janeiro, 2021b.
BAPTISTA, Jean. O Temporal. Dossiê Missões. Brasília/São Miguel das Missões: Instituto Brasileiro de Museus/Museu das Missões, 2015. Disponível em: https://www.museus.gov.br/wpcontent/uploads/2015/09/Dossie_missoes_Temporal.pdf. Acesso 2 jul. 2021.
BAPTISTA, Jean; BOITA, Tony. Patrimônios indígenas nos 80 anos do Museu das Missões. Boletim Do Museu Paraense Emílio Goeldi, 14(1), 2019.
BAPTISTA, Jean; WICHERS, Camila; BOITA, Tony. Mulheres Indígenas nas Missões: patrimônio silenciado. Revista Estudos Feministas, 27, 2019.
BELAUNDE, Luisa. “O estudo da sexualidade na etnologia”. Cadernos de Campo, São Paulo, v. 24, n. 24. 2015.
BUTLER, Judith. Bodies that matter: on the discursive limits of "sex". New York: Roudedge, 1993.
BUTLER, Judith. Problemas de gênero: Feminismo e subversão da identidade. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CARIAGA, Diógenes. “Gênero e sexualidades indígenas: alguns aspectos das transformações nas relações a partir dos Kaiowa no Mato Grosso do Sul”. Cadernos de Campo, São Paulo, n. 24, p. 441-464. 2015.
CHAMORRO, Graciela. Decir el cuerpo. Asunción: Tiempo de Historia, 2009.
CLASTRES, Pierre. “O Arco e o Cesto”. In: A Sociedade contra o Estado. Francisco Alves, p. 71-89, 1978.
CONNELL, Robert. “Globalization, Imperialism, and Masculinities”. In: KIMMEL, M. S; HEARN, J.; CONNEL, Robert (orgs.). Handbook of Studies on Men and Masculinities. Thousand Oaks: Sage, 2005. p. 71-89.
CUNHA, Manuela. “Introdução a uma história indígena”. In: História dos índios no Brasil. São Paulo: Companhia das Letras, 1992. p. 9-24.
D'EVREUX, Ivo. Viagem ao norte do Brasil feita nos annos de 1613-1614. Maranhão: Typ. do Frias, 1874.
DRISKILL, Qwo-Li; FINLEY, Brian Joseph Gilley; MORGENSEN, Scott Lauria. Queer indigenous studies: critical interventions in theory, politcs, and Literature. Tucson: Arizona Press/University of Arizona, 2011. p. 97-111.
FERNANDES, Florestan. Organização social dos Tupinambá. São Paulo, Difusão Europeia, 1963.
FERNANDES, Rafael. Decolonizando sexualidades. 2015. Doutorado (Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais, Estudos Comparados sobre as Américas do Centro de Pesquisa e Pós-Graduação sobre as Américas) — Universidade de Brasília, Distrito Federal, DF.
FOUCAULT, Michel. História da Sexualidade I: a vontade de saber. Rio de Janeiro: Graal, 1999.
GÂNDAVO, P.. Tratado da terra do Brasil. Brasília, Senado Federal, 2008.
KRENAK, Ailton. Ideias para adiar o fim do mundo. São Paulo: Companhia das Letras, 2019.
LÉVI-STRAUSS, Claude. História de Lince. São Paulo: Companhia das Letras, 1993.
MCCALLUM, Cecilia. “Nota sobre as categorias ‘gênero’ e ‘sexualidade’ e os povos indígenas”. Cadernos Pagu, Campinas, n.41, 2013.
MOTT, Luiz. “Etno-História da Homossexualidade na América Latina”. Seminário-Taller de História de las Mentalidades y los Imaginarios, 1994.
NIMUENDAJÚ, Curt. As lendas da criação e destruição do mundo como fundamento da religião dos apapocúva-guarani. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1987.
PONCE, P., MUÑOZ, R., STIVAL, M.. Pueblos indígenas, VIH y políticas públicas en latinoamérica. Saúde Coletctiva, 13, 2017.
RAMOS, Antônio. Tribunal de gênero. São Leopoldo: Oikos, 2016.
ROSCOE, Will. Living the Spirit: A Gay American Indian Anthology. Nova York: St. Martin's Press, 1988.
ROSCOE, Will. The Zuni Man-Woman. University of New Mexico Press, 1991.
SAMPAIO TUKANO, Daiara Hori Figueroa. Ukushe kiti niishe. Direito à memória e à verdade na perspectiva da educação cerimonial de quatro mestres indígenas. 2018. Mestrado (Mestrado em Direitos Humanos e Cidadania) - Universidade de Brasília, Brasília, DF.
SEGATO, Rita. “Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial”. E-Cadernos Ces, n. 18, p. 105-131. 2012.
STRATHERN, Marilyn. O gênero da Dádiva: problemas com as mulheres e problemas com a sociedade na Melanésia. Campinas: EDUnicamp, 2006.
VAINFAS, Ronaldo. “Inquisição como fábrica de hereges”. In: VAINFAS, Ronaldo; FEITLER, Bruno; LIMA, Lana (orgs.). A Inquisição em Xeque. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2006.
VAINFAS, Ronaldo. Trópico dos pecados. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. “O mármore e a murta: sobre a inconstância da alma selvagem”. Revista de Antropologia, São Paulo, v. 35, 1992.
Submetido em:
30/08/2021
Aceito em:
25/09/2021
Publicado em:
15/12/2021
